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10 de enero de 2012 | | |

Usurpação

O fenômeno dos bairros privados na Argentina e seus impactos ambientais e sociais

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A meados de 2011 o Organismo Provincial para o Desenvolvimento Sustentável da Província de Buenos Aires, Argentina, proibiu a construção de um bairro privado no Delta do rio Paraná, em Tigre.

O megaempreendimento imobiliário chamado “Colony Park” pretendia criar um bairro fechado sem importar o deslocamento de populações locais nem os impactos na zona úmida e ecossistema da zona.

Somente a luta de moradores e diversas organizações sociais deteve o projeto da empresa, que não teve problemas para desapropriar terras, desalojar moradores, queimar casas e mudar cursos de água. No entanto, a batalha continua: dezenas de “organizações privadas” levantam-se sobre ecossistemas de grande valor, bem perto da capital argentina Buenos Aires.

O Delta do rio Paraná é um extenso mosaico de zonas úmidas com funções críticas de recarga e descarga de aquíferos, controle de inundações, retenção de sedimentos e nutrientes, regulação do clima, entre outras. A construção de bairros privados nesse tipo de ecossistema impacta nessas funções.

A partir de 2004 e 2005 existe uma expansão maior dos bairros privados na província de Buenos Aires, parte de um “modelo de urbanização neoliberal” que representa “apropriação e desapossamento”, diz a socióloga argentina Maristella Svampa, dedicada ao estudo desses “espaços privados de socialização”. Foi entrevistada por Amigos da Terra Argentina nos marcos do trabalho dessa organização em defesa da água, os territórios e contra a usurpação de terras.

Maristella chama a atenção sobre o estabelecimento de dezenas de “organizações privadas” especialmente no rio Luján, comunicado com o Paraná de las Palmas, um dos grandes braços em que se divide o rio Paraná no último trecho de seu Delta. Svampa vincula a instalação destes bairros com processos de retração de zonas úmidas: por causa de terraplenagens, ou ocupações de espelhos de água e a criação de lagos artificiais, por exemplo, que “têm impactado muito fortemente em ecossistemas que são muito frágeis”.

Conforme Amigos da Terra Argentina, atualmente há um boom imobiliário sem precedentes em muitos lugares de Buenos Aires e sua metrópole, especialmente nas áreas costeiras. Os bairros privados usurpam terras de grande importância ambiental e social, expressa a organização, em um modelo que não leva em conta os moradores tradicionais. Ocorre assim “uma luta entre o modelo comunitário, de vizinhança e de bens comuns, e o paradigma neoliberal radical, com a propriedade privada como único valor e a mercantilização da natureza e as relações sociais como resultado”, expressa a Amigos da Terra Argentina.

Svampa fala de “espaços de segregação urbana e residencial” e de um “modelo de ocupação territorial que tem muito a ver com a concentração imobiliária, a especulação, mas que basicamente trata-se de um novo modelo territorial que significa usurpação e desapossamento”.

“Não existem controles, são violadas todas as normativas vigentes e tenta-se neutralizar as demandas das populações ali assentadas”, diz.
A socióloga explica que a relação entre moradores tradicionais e novos compradores “é inexistente e está em claro retrocesso”. “As urbanizações privadas têm a particularidade de colocar fronteiras rígidas visíveis, cercas, arames… que separam o interior do exterior, a população protegida da população potencialmente perigosa”, expressa. Trata-se de um fenômeno social interessante no conurbano de Buenos Aires, onde classes sociais favorecidas ocupam espaços tradicionalmente habitados por setores muito menos abastados.

Foto: bajandolineas.com.ar

(CC) 2012 Radio Mundo Real

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