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14 de agosto de 2012 | | | |

"Sempre saem do controle"

Não há espaço para a manifestação na Colômbia: os ESMAD atacaram manifestantes por direitos em Huila

Equipes dos Esquadrões Móveis Anti-distúrbios (ESMAD) da Colômbia reprimiram na segunda-feira uma manifestação pacífica de cerca de 2000 pescadores, camponeses e indígenas perto do município de Hobo, no departamento de Huila, contra os megaprojetos mineradores-energéticos e por uma saída política ao conflito armado nacional. Houve cerca de 50 manifestantes e vários policiais feridos.

Desde 9 de agosto o Movimento pela Liberação e Defesa da Mãe Terra tem estado se mobilizando na zona. Reúne diversos setores sociais de Huila, dentre eles pescadores, camponeses e indígenas. Ontem, diante da negativa do governo nacional de Juan Manuel Santos de atender suas demandas, os manifestantes resolveram bloquear totalmente a via Panamericana (que comunica comercialmente Colombia com o Equador e o sul do continente sul-americano), na zona da Quebrada do Pescador.

A manifestação durou cerca de 20 minutos, porque sem dizer nada os policiais da ESMAD arremeteram contra os manifestantes com gases lacrimogêneos e pedras. “Sempre saem do controle”, disse à Rádio Mundo Real o ativista Juan Pablo Soler, integrante de Outros Mundos Colômbia e do Movimento Rios Vivos desse país, presente na mobilização. A população agredida sentiu-se indignada e vários manifestantes se defenderam também atirando pedras. Por isso houve alguns agentes dos ESMAD feridos. “Sabemos que são colombianos, assim como nós, e lamentamos muito essa situação”, disse Soler, antes de afirmar que os ESMAD utilizaram força bruta contra populações que lutam “por seus direitos e soberania no território”.

Nesta terça-feira há “muita incerteza” na zona das manifestações, conforme o integrante de Outros Mundo Colômbia, porque o governo de Santos não aceitou comparecer na região para dialogar com os manifestantes, que enquanto isso continuam no lugar.

O Movimento pela Liberação e Defesa da Mãe Terra exige a suspensão dos megaprojetos mineradores e energéticos, dentre os que se destaca o da barragem de El Quimbo, que atingiria vários municípios de Huila. As comunidades indígenas pedem também que sejam cumpridos com os processos de consulta prévia, para que elas possam opinar sobre os empreendimentos. Somam-se por sua vez às demandas dos povos originários do departamento de Cauca, para que os atores armados saiam de seus territórios. Estas são as principais reivindicações das mobilizações destes dias em Huila.

“Aqui há uma forte presença das comunidades indígenas que têm a mesma posição diante do conflito armado” que os indígenas do Cauca, manifestou Soler. “Dizemos que no território não devem haver atores armados porque já são muitos anos em que tem se demonstrado que sua presença aumenta o conflito e as violações dos direitos humanos”. “Fazemos um chamado a a ter uma solução política ao conflito em busca de paz, que se retirem de los atores armados do território”, acrescentou o ativista.

O Movimento Rios Vivos afirma que existe “uma estreita relação” entre os megaprojetos e o aprofundamento dos conflitos nas zonas. “Pode ser que o conflito armado exista no território há alguns anos, mas quando chega o megaprojeto, seja minerador, de barragem, de plantio, infraestrututra, sempre há um aprofundamento do conflito e termina em desalojamento das comunidades”, afirmou Soler.

Nessa linha, o Movimento pela Liberação e Defesa da Mãe Terra está muito preocupado pelos diversos empreendimentos mineradores e energéticos projetados para Huila. Soler considerou que se pretende “entregar o território nacional às multinacionais mineradoras”. O integrante do Movimento Rios Vivos também destacou a concessão “irregular” da licença ambiental para o projeto El Quimbo à empresa Emgesa, filial da espanhola Endesa e a italiana Enel. “Estamos exigindo que sejam estabelecidas as responsabilidades” pelas afecções geradas logo de ter sido expedida a licença ambiental, “em uma processo cheio de irregularidades”, indicou.

Soler considera necessário que o governo nacional abra um processo de diálogo sobre a política mineradora energética do país: “Não basta com deter um projeto. Temos que avançar na construção coletiva de uma política mineradora energética e isso não podemos fazê-lo somente nó os atingidos”, disse o ativista.

Foto: http://elquepiensagana.blogspot.com

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