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11 de Outubro de 2012 | | | | | |

A Argentina feudal

Mais um camponês do Mocase é assassinado em disputa pela terra no interior profundo argentino

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Há quase um ano da morte de Cristian Ferreyra, integrante do Movimento Camponês de Santiago del Estero (Mocase), nesta quinta-feira 10 de outubro, o movimento lamenta o assassinato cometido por matadores de aluguel à serviço de empresas do agronegócio que disputam os territórios camponês-indígenas, de Miguel Galván, assassinado com uma punhalada no norte dessa província argentina.

Com a morte de Ferreyra, em novembro de 2011, as autoridades argentinas reagiram decretando uma moratória aos desmatamentos durante seis meses. Após esse prazo, o avanço da fronteira agrícola continuou, junto aos planos de produção sojeira, avançando –com desalojamentos e violência - sobre territórios camponeses e indígenas das províncias.

Enquanto o Movimento Nacional Camponês Indígena (MNCI) celebrava o iminente debate da lei que detém os desalojamentos de terras comunitárias, o crime cometido na quinta-feira 10 em Paraje Simbol, no norte de Santiago del Estero, deixou em evidência a situação de feudalismo em que atuam os governos locais e as empresas do agronegócio.

De fato, embora exista uma lei que proteja os territórios indígenas promovida pelo Ministério de Desenvolvimento Social da Argentina, liderado por Alicia Kirchner, ela não é cumprida, disse em entrevista com Rádio Mundo Real desde Santiago, Cariló Olaiz, do Mocase.

O autor material do crime, bem como a empresa para a qual trabalha e suas cumplicidades em nível do governo provincial de Santiago estão absolutamente identificados. Mesmo assim, segundo Cariló a Justiça argentina parece não avançar além dos “feudos” dos latifundistas e seus aliados.

Os acontecimentos

Cariló contou como aconteceram os fatos que acabaram na morte de Galván com uma ferida em sua jugular: na tarde da quarta-feira 10 de outubro Galván junto a outros camponeses se reuniram para realizar tarefas cotidianas no curral de pequenos animais, o que foi interpretado como uma tentativa de impedir o trabalho de um grupo de trabalhadores que estavam colocando arames para a empresa Agropecuária LAPAZ S.A.. Esta empresa vem cercando para si, parte do território que pertence a comunidade.

Um deles, Paulino Riso, reagiu com um punhal atacando Miguel, que morreu dessangrado.

As ameaças de morte e agressões físicas de pessoas vinculadas à empresa, contra a família de Miguel haviam se tornado permanentes. A empresa pretende se apropriar de uma superfície de 100 mil hectares, onde hoje a comunidade planta para autoconsumo, para cultivar soja.

As terras se situam entre as províncias de Santiago del Estero, Salta e Chaco. Após ocupar praticamente toda a superfície das províncias de Buenos Aires, Santa Fe, Entre Ríos, Corrientes e Córdoba, a fronteira agrícola-sojeira se expande para a Argentina profunda.

As denúncias respectivas foram feitas em diversas ocasiões à polícia de Monte Quemado, em sedes judiciais e diante de autoridades provinciais.

Conforme o Mocase, essas irregularidades haviam sido constatadas duas semanas atrás pelo Comitê de Crise da província de Santiago. É por isso, que o movimento responsabiliza o governador Gerardo Zamora pela inação cúmplice que deixou as famílias camponesas indefesas.

O Mocase e o MNCI (parte da Via Campesina Internacional) exigem a aprovação urgente da Lei Contra os Desalojamentos de camponeses, mas indicam que os avanços legislativos devem ser acompanhados por uma intervenção do governo nacional para proteger a segurança das famílias camponesas indígenas fustigadas pelos latifundistas. Caso contrário, as normas tornam-se “papel molhado”.
Condições iguais

Cariló indica que há quase um ano da morte de Cristian Ferreyra as condições de violência organizada pelas empresas permanecem iguais.

“Assim como no caso de Cristian, estão feitas todas as denúncias e inclusive houve uma reunião conciliatória com o juiz no mês de julho. O governo de Santiago tinha conhecimento e tema relevado este caso quinze dias atrás e não fizeram nada contra os grupos armadas que fazem isto”, conta Cariló.

O dirigente responsabiliza por esta violência estrutural ao modelo de desenvolvimento que se está presente no “Plano Agroalimentar” que promove o crescimento da produção de soja e que é promovido pelas entidades agropecuárias vinculadas ao agronegócio da Argentina. Para Cariló “este crescimento só pode ser feito expulsando os camponeses de suas terras”.

Afirmou ainda que “as províncias continuam sendo um feudo onde os empresários fazem o que querem. Exigimos uma intervenção concreta do território porque mesmo aprovadas as leis, depois seu cumprimento no território não se realiza”.
O MNCI se mobilizará tanto em Santiago quanto em outras capitais provinciais e na Capital Federal, Buenos Aires, além de recorrer às suas alianças internacionais para gerar uma reação do Executivo de Cristina Fernández que proteja a vida das comunidades camponesas e indígenas que se enfrentam à disputa de territórios.
Paralelamente prepara-se uma mobilização ao completar-se um ano da morte de Cristian Ferreyra no dia 16 de novembro.

Foto: http://www.eldiario24.com

(CC) 2012 Radio Monde Réel

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