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16 de Março de 2011 | | | |

Barbárie empresarial

Desalojamento de camponeses a sangue e fogo na Guatemala

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Mais de 800 famílias indígenas e campesinas mayas guatemaltecas da zona do Valle de Polochic que ocupavam um latifúndio improdutivo foram desalojadas violentamente nesta terça-feira a pedido da empresa proprietária. As informações falam de pelo menos um camponês assassinado e dezenas de feridos de bala e de machado, pela ação de militares, policiais e civis.

O Valle de Polochic está situado no departamento de Alta Verapaz no norte da Guatemala. O desalojamento, embora havia sido anunciado, acabou em uma manobra de provocação de grupos de civis que, protegidos pelas forças públicas, entraram na área, destruindo as populações e a milpa (agroecossistema) e arremetendo contra os líderes da comunidade.

É o que está divulgando a Via Campesina Guatemala, afirmando que o operativo contou com participação de forças estatais, mas também de elementos de segurança do engenho Chabil Utzaj, proprietário das terras onde cerca 2.000 pessoas haviam começado com cultivos de auto-consumo, desde outubro de 2010.

No processo de ocupação, os líderes comunitários contaram com acompanhamento do Comitê de Unidade Camponesa (CUC-VC) iniciando desde outubro de 2010, trâmites de negociação dessas terras na Secretaria de Assuntos Agrários e o Fundo Nacional de Terras (Fontierras). O objetivo era buscar mecanismos para a compra das áreas ocupadas. Apesar de existir uma mesa de diálogo sobre isto, o juizado de Primeira Instância Penal de Cobán, Alta Verapaz, a pedido da empresa Chabil Utzaj, emitiu uma ordem de desalojamento para a terça-feira 15, começando por duas das várias comunidades existentes: Miralvalle e Aguas Calientes.

“Ao invés de continuar pela via do diálogo, a família Widmann, proprietários de Chabil Utzaj, e o governo estão optando pela violência e violação dos direitos”, reclama a Via Campesina Guatemala.

No momento dos desalojamentos, não serviu de nada o pedido do Comitê de Unidade Campesina aos gendarmes e empresários para que fosse respeitada a integridade e os direitos humanos dos camponeses. Ao clarear o dia já haviam se instalado oito caminhões do Exército, várias carros da Polícia Nacional Civil, além de civis contratados pela empresa nas proximidades da área.

Desde o início denunciou-se a entrada de agentes vestidos de civis com armas curtas. Paralelamente, entravam também tratores e outras maquinas da empresa, destruindo os cultivos de subsistência das comunidades, apesar do compromisso assumido pela Polícia para com os líderes comunitários.
As famílias começaram a ir embora, mas a Polícia entra de forma violenta utilizando outro grupo de camponeses armados com machados que entraram para destruir e queimar as casas e a milpa, perseguindo-os com bombas lacrimogêneas até uma área privada, entrando em algumas das casas e batendo em homens e mulheres.

Ali, Antonio Beb Ac, líder comunitário seriamente ferido em sua cabeça, morre durante o desalojamento da comunidade Miralvalle. Também María Elena Pau foi ferida em uma perna pelos agentes que entraram em sua casa. José Tun e Rafael Suy foram feridos de bala, ao tempo que a Polícia também capturou os líderes Justo Tiul Chen e Sebastián Choc.

Conforme o jornal digital guatemalteco Prensa Libre, a Polícia e o Exército negaram-se a confirmar a morte de Antonio Beb Ac “e inclusive chegaram a dizer que foi ele que feriu-se a si próprio com seu machado” embora “o promotor encarregado do caso, Benigno Ramírez, confirmara o homicídio”.

As testemunhas da operação violenta de desalojamento denunciaram que ela foi comandada pelos próprios administradores da fazenda Chabil Utzaj: Ricardo Díaz e Efraín.

Ernesto Coy, membro da comunidade Miralvalle disse a Prensa Libre: “Nós aceitamos (o desalojamento), mas cerca das 10 quando estávamos tirando nossas coisas entrou um bando contratado pela empresa e começaram a cortar tudo o que temos. Vieram até nós com machados e paus para levar-nos para a estrada, fomos pegar as coisas e começaram a nos atirar”.

Além de denunciar a gravidade destes fatos e exigir uma investigação, a Via Campesina Guatemala exige que o governo facilite o acesso à terra para estas 800 famílias carentes de moradia e terra para plantar grãos básicos.

“Não é possível que a conflitividade agrária continue latente na área rural de nosso país, que o governo ignore as demandas dos camponeses e que, pelo contrário, beneficie empresários e latifundistas que estão concentrando e reconcentrando a terra para o plantio de grandes extensões de monoculturas”, indica a entidade camponesa que reúne oito organizações no país centro-americano.

Também convoca a estar alerta sobre a continuidade do processo de desalojamento, sendo que ainda restam uma dezena de comunidades no lugar.

Foto: www.cloc-viacampesina.org

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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