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1 de Fevereiro de 2011 | |

Chuva indesejável

Uruguai: a história de Jorge e Laura, casal intoxicado por sojeiros

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No departamento de Durazno, Uruguai, famílias rurais sofrem severos problemas de saúde, depois de terem sidos fumigados por agrotóxicos utilizados no cultivo de soja transgênica; o Estado não se encarrega do problema.

Há exatamente um ano atrás, em janeiro de 2010, Jorge Mérola e sua esposa, Laura, realizavam trabalhos no campo vinculadas à produção de gado em suas terras em Mariscala. Dias antes, avionetas fumigadoras aplicaram agrotóxicos nos cultivos de soja transgênica que há alguns anos, cercam o terreno dos Mérola.

Chovia e Laura se refrescou a cara com água que caia do teto. A reação foi quase imediata: na manhã seguinte Laura amanheceu com manchas violetas em seu rosto que se espalharam rapidamente para o resto do corpo, desorientando os médicos que demoraram em obter um diagnóstico, disse à Rádio Mundo Real Jorge.

As chuvas, que “lavam” os pesticidas aplicados nos cultivos, fazem que por uma questão de custos -a fumigação aérea é custa caro-, os agrotóxicos sejam aplicados em concentrações mais altas do que é comum e está autorizado. E há um ano atrás, as chuvas caiam dia após dia

Na semana em que Laura se intoxicou, Jorge recebeu um aguaceiro enquanto percorria o campo. Ao chegar em sua casa, começou a sofrer uma coceira “insuportável” no corpo que, no dia seguinte, seu médico atribuiu sem duvidar aos agrotóxicos que os sojeiros vinham aplicando nessa época do ano.

O uso de agrotóxicos em altas concentrações provocaria a condensação deles nas nuvens, espalhando-se quando chove. “Em épocas de chuvas aplicam seus produtos mais concentrados, porque aqui não há quem controle nada e economizam voos”, disse Jorge.

A empresa que administra os campos sojeiros na região é a argentina Calyx Agro, criada em 2007 para a “identificação, aquisição, desenvolvimento, conversão e venda de terras no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai”; realizar “parceria com operadores agrícolas e grandes operadores agrícolas ou proprietários de terras” e “administração e produção” de “commodities” agrícolas, conforme seu site.

Há um ano dos fatos, Laura não pôde se recuperar: possui dermatomiosite, perdeu 20% de sua capacidade muscular e deve fazer quimioterapia.
Tiveram que se mudar para Villa del Carmen, evitando voltar ao campo para não repetir a intoxicação. Jorge, em troca, tem evolucionado favoravelmente e diariamente viaja para trabalhar em seu campo.

Além disso, no mesmo período apareceram animais mortos, com as mandíbulas e músculos rígidos, o que Jorge considera que tem a mesma causa.

Moradores da zona comentam que as avionetas aterrizam nas estradas, sem aviso prévio e que o caso de Laura e Jorge “não é o único”, o que foi confirmado por ele indicando que outros moradores têm sofrido sintomas similares, sem denunciar isso.

“Isto gera muito dinheiro, mas as empresas têm encontrado esse negócio e contra o dinheiro é muito difícil, não é possível”, diz Jorge. “O Ministério não faz os controles que deveria e as empresas utilizam produtos que estão proibidos em outros países”.

Mesmo assim Jorge não acha sentido em denunciar o problema ao governo. E explica o motivo: durante esses dias de chuva houve um grande mortalidade de peixes no rio Yí, que foi “explicada” pela Direção Nacional de Recursos Aquáticos (Dinara) do Ministério de Pecuária como resultado da falta de oxigênio na água por causa das precipitações. “Diante desse tipo de atitudes, decidi não denunciar nada”, resigna-se Jorge.

A superfície cultivada com soja transgênica no Uruguai tem aumentado exponencialmente no último quinquênio atingindo na safra atual cerca de 900 mil hectares. O país ocupa o sexto lugar dos exportadores de soja do mundo e o oitavo na lista dos maiores produtores.

As principais empresas neste setor são sociedades de investimentos, fundos de investimentos e/ou fideicomissos de investimento, com forte componente transnacional, vindas da Argentina pela ausência de impostos às exportações e um menor preço relativo da terra.

Foto: http://anteriores.eldiariocba.com.ar

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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