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30 de Novembro de 2011 | | |

O internacionalismo na prática

Movimento camponês mundial perde um de seus referentes: Egídio Brunetto

Um acidente de trânsito nesta segunda-feira 28 de novembro tirou a vida de um dos principais referentes internacionais do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra do Brasil e da Via Campesina Internacional, Egídio Brunetto.

A consternação percorreu a América do Sul, a Cordilheira Andina, América Central, e o Caribe ao surgir a trágica notícia, provocando uma chuva de mensagens de solidariedade com o MST que perdia assim um de seus mais carismáticos líderes, de raiz totalmente camponesa. Dezenas de lideranças de todos os continentes foram até o estado originário de Egídio - nome que em grego significa “o que protege”-, Santa Catarina, para o que será o funeral de um histórico militante do movimento camponês.

Fausto Torres, membro da Comissão Política da Coordenadora Latino-americana de Organizações do Campo (CLOC-Vía Campesina) -em cuja fundação trabalhou intensamente no início dos anos 90 o próprio Egídio Brunetto- disse à Rádio Mundo Real em Manágua que o ativista brasileiro foi um dos principais promovedores da Campanha Global pela Reforma Agrária.

Também foi ele que promoveu a data de 17 de abril como Dia Internacional das Lutas Camponesas em homenagem às vítimas do Massacre de El Dorado dos Carajás, no estado do Pará.

Fausto contou que no momento do terrível massacre onde foram assassinados 19 camponeses, Egídio Bruneto estava em uma conferência da Via Campesina Internacional e imediatamente propôs estipular essa data como um marco histórico do internacionalismo rural e camponês.

Egídio foi filho de camponeses brasileiros sem terra do estado de Santa Catarina. No entanto, há anos vivia em um assentamento no Mato Grosso do Sul, em uma das zonas com maior violência cometida por empresas e latifundistas contra o movimento camponês.

Sua morte ocorreu no dia 28 em uma acidente automobilístico na rodovia MS 164 que liga os municípios de Maracaju e Ponta Porã, perto da fronteira com o Paraguai. Brunetto ia para o assentamento Itamaraty do MST.

A magnitude da perda fica clara ao ver os pêsames enviados após a notícia ter sido divulgada no site do MST. Por exemplo, o ex-presidente do Brasil, Luíz Inácio “Lula” Da Silva, definiu Brunetto como um “exemplo de militante incansável” em uma carta enviada ao Movimento.

A integrante da Amigos da Terra Internacional, Karin Nansen, manifestou sua consternação pela perda deste referente camponês e companheiro de anos de construção política entre essa federaçãoo ambientalista e o MST-Via Campesina.

Homenagem em Manágua

A manhã da terça-feira (29) foi de lembrança e homenagem para a vintena de latino-americanos e latino-americanas reunidas na I Escola de Formação de Comunicadores e Comunicadores da CLOC-Via Campesina e organizações aliadas que está sendo realizada nestes dias na capital nicaraguense.

Comunicadores da Comissão Pastoral da Terra (primeira organização da qual fez parte Egídio), do jornal Brasil de Fato e da Brigada Audiovisual do MST, lembraram na mística da manhã a herança do dirigente lendo um poema em sua homenagem. E compartilharam palavras de despedida com seus companheiros de formação desta última semana.

“No dia de hoje queremos lembrar com dor e homenagem um companheiro do Brasil muito especial para todos nós e todas nós”, disse Felipe Canova, cineasta da brigada sem terra que animou algumas oficinas sobre produção audiovisual na Escola.

A escola de formação, definida como um objetivo cumprido dentro das resoluções do V Congreso da CLOC, resolveu enviar uma mensagem de solidariedade ao MST e aos amigos e familiares de Egídio, disse à Rádio Mundo Real Leonardo Peña Sánchez, da Via Campesina El Salvador.

A jornalista do Brasil de Fato, órgão de imprensa popular alternativo do Brasil, Joana Taváres lembrou Egídio como alguém “firme no trato, mas também carinhoso e solidário com todos e todas nós”. “Toda sua geração... e Egídio particularmente foi uma geração muito inspiradora para os que logo nos unimos ao movimento camponês desde as cidades, desde a academia, desde o jornalismo”, disse Joana.

Lembrou que apesar de ser um dos referentes internacionais do MST e de ter viajado intensamente trabalhando em articulações de luta, Egídio não falava outras línguas, “apesar do qual trabalhou muitíssimo e sempre conseguiu se fazer entender e seus pontos de vista foram sempre valorizados pelos camponeses de outros países”.
“Sempre costumava dizer aos companheiros que faziam parte das missões e brigadas internacionalistas que o MST realizava essas ações para compartilhar, não para ensinar mas sim para aprender”, lembrou, emocionada, Joana.

A articulação internacional, de fato, parecia ser um ponto de obsesivo interesse no pensamento do líder brasileiro.

Em um artigo publicado pelos 25 anos do MST e referindo-se ao internacionalismo camponês, Brunetto manifestava a necessidade de “desenvolver uma prática cotidiana consequente” com esse princípio. “Especialmente agora que completamos um quarto de século e que já vivemos a fase do auge revolucionário, o descenso do socialismo com o ascenso do neoliberalismo, e agora, uma grande crise do capitalismo.”, dizia nessa ocasião Egídio.

Um militante difícil de substituir. Sem dúvida um dos indispensáveis.

Foto: mst.org.br

(CC) 2011 Radio Monde Réel

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