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15 de Março de 2011 | Notícias | Indústrias extrativas
Olhos abertos
Uruguai: Legislador alerta sobre ameaças de projeto minerador a céu aberto
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O senador uruguaio do partido oficialista Frente Ampla Eleuterio Fernández Huidobro adverteu na segunda-feira que deve-se ir “devagar e lento” na análise do projeto minerador da empresa Aratirí, na localidade de Valentines, no centro do país. O senador afirmou que deve ser analisado “com sete lupas”
Aratirí planeja investir 2 bilhões de dólares em uma mina de ferro a céu aberto, em cerca 10.000 hectares na zona de Valentines, para exportar 18.000.000 de toneladas de ferro por ano para a China. Já está fazendo trabalhos de prospecção na zona.
Em entrevista publicada pelo jornal uruguaio La Diaria, Fernández Huidoboro manifestou que é preciso garantir que a empresa indiana Zamin Ferrous, matriz da Aratirí, seja efetivamente uma mineradora e não “a fachada de outra coisa”. “Hoje está em questão, existem versões que indicam que a empresa se dedica a intermediar minérios e a fazer prospecções para depois vendê-las a outras empresas mineradoras. É algo que a empresa nega, mas deve-se analisar tudo com muito cuidado”, disse.
Conforme o jornalista uruguaio Víctor Bacchetta publicada no semanário Voces, Zamin Ferrous, que se apresenta como empresa familiar, é na verdade a fachada de um grande operador do mercado mundial de matérias primas. O presidente da empresa indiana é Pramod Agarwal, fundador em 1981 da Texuna International, que tem sede em Hong Kong, uma empresa que lidera um grupo comercial na Comunidade de Estados Independentes, em 10 das 15 ex-repúblicas soviéticas.
Texuna tornou-se em pouco tempo em uma grande rede de empresas operando no comércio de matérias primas entre Ásia, a Comunidade dos Estados Independentes, Europa e Estados Unidos. As maiores multinacionais têm se apoiado em Texuna para entrar nos mercados das ex-repúblicas soviéticas, conforme a pesquisa de Bacchetta.
Na entrevista com La Diaria, Fernández Huidobro acrescenta que uma reserva a céu aberto com as dimensões projetadas em Valentines “já é um problema em si mesmo”, e que “sobram os exemplos” no mundo dos impactos ambientais que provoca a grande mineração.
O Uruguai deveria “avaliar que possibilidade tem de gerar algum valor agregado e que não seja uma exportação de matéria prima”, refletiu o senador. E foi mais profundo ainda em sua análise, ao questionar o paradigma de desenvolvimento sob o qual se desenvolve este megaempreendimento: “Este modelo leva o planeta ao desastre e basta ver televisão. Antes dizíamos que os inimigos eram o imperialismo e a burguesia, e continuam sendo, mas ninguém falava de ecologia, esgotamento dos recursos ou crise alimentar. Este modelo é para uma minoria e o resto da humanidade sobra. É um futuro sem porvir”.
Fernández Huidobro fez uma auto-crítica pelo desinteresse da esquerda uruguaia para com as propostas do ecologismo durante muito tempo, talvez porque “nunca pensamos que a estupidez humana poderia chegar até isto”.
Nos últimos anos, o Uruguai tem recebido uma onda de investimentos de capitais transnacionais em áreas como a agricultura, florestamento, produção de pasta de celulose, mineração e infra-estrutura.
Em abril do ano passado, o mesmo Huidobro havia alertado sobre alguns riscos destes investimentos em megaprojetos. Advertiu nesse então que os departamentos de Treinta y Tres, Cerro Largo e Rocha sofrerão graves problemas, caso estes empreendimentos prosperarem e não forem adotadas medidas para enfrentar seus impactos. Explicou, conforme a Rádio El Espectador, que com as novas iniciativas se gerará uma grande migração para essas zonas e, portanto, haverá graves inconvenientes de alojamento, saúde e saneamento. O legislador considerou que esses departamentos não estão preparados para os controles sanitários e meio-ambientais que devem ser realizados.
