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15 de Março de 2012 | | |

Prioridades

Efeitos dos agronegócios no Uruguai em debate

“A saúde da terra deve fazer parte da agenda dos trabalhadores da saúde humana”, disse na quarta-feira na capital uruguaia, Montevidéu, o médico argentino Damián Verseñazzi, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional de Rosário.

“É inadmissível que os responsáveis da saúde digam que as vítimas dos agrotóxicos têm que demonstrar que são vítimas”, acrescentou o doutor, em um atividade pública organizada por REDES – Amigos da Terra Uruguai e o Programa Uruguai Sustentável. A organização ecologista apresentou na Faculdade de Belas Artes informação e dois pequenos documentários denominados “Efeitos Colaterais. Depoimentos de atingidos e atingidas pelo agronegócio no Uruguai 2011”.

Cerca de 150 pessoas estiveram presentes na atividade para conhecer o trabalho e ouvir as palestras de Verseñazzi, a médica uruguaia Mabel Burger, ex-diretora do Departamento de Toxicologia da Faculdade de Medicina da Universidade da República, e os testemunhos de dois moradores de zonas do país atingidas pelos agrotóxicos.

A superfície de cultivo de soja no Uruguai tem crescido exponencialmente e atingiu um milhão de hectares na safra 2010/11. A chegada dos pools de plantios, empresas de origem argentino que chegaram por sua própria expansão e pelas facilidades tributárias concedidas pelo país, acelerou o processo de concentração da terra e da produção. À grande expansão sojeira deve se acrescentar o forte desenvolvimento florestal, que também ocupa mais de um milhão de hectares, e a mais tradicional atividade arrozeira, que configuram um pacote de agronegócios que impacta especialmente às comunidades locais, inclusive a sua saúde.

“Fica claro que o atual modelo de desenvolvimento agrícola predominante no Uruguai, percebido como promovedor da ’modernidade no campo’, traz associado vários ’efeitos colaterais’”, dizia o comunicado de imprensa circulado por REDES – AT face à atividade. Dentre esses efeitos, a organização destaca a concentração de recursos produtivos, os problemas na saúde das populações rurais, suas escassas possibilidades de desenvolvimento e a exclusão de boa parte dos agricultores familiares, população rural e suburbana em geral.

“O sistema de saúde pública mostra sérias debilidades na hora de diagnosticar uma série de novas afecções das populações diretamente impactadas pelas práticas tecnológicas do agronegócio”, acrescentava o comunicado. Acrescentava que “a população tende a se acostumar a estas condições, revela a ausência do Estado como entidade de controle do uso do solo e da água, bem como de proteção da saúde pública”.

A organização ecologista fez seu trabalho de documentação audiovisual e a atividade de ontem com o objetivo de chamar a atenção sobre as consequências do modelo do agronegócio inclusive em termos sanitários, afim de que as autoridades correspondentes se encarreguem devidamente do tema. “A academia e o Estado devem dar respostas. É triste que as pessoas não vejam o Estado como um aliado”, disse na conferência o pesquisador científico Pablo Galeano, integrante de REDES – AT.

Da localidade de Guichón, Paysandú, especialmente atingida pelo impactante desenvolvimento sojeiro e florestal, o morador Marcelo Fagúndez denunciou ontem que estão “órfãos de autoridades”, sem ver “ações do Estado”.

Afirmou que cada vez é mais comum que os moradores da zona estão em jornadas de arrecadação para apoiar a moradores doentes. Embora não podem garanti-lo, eles acreditam que é a agroindústria a que os está adoecendo, e por isso exigem o apoio estatal. “Se os sojeiros têm direito a obter seus bons lucros, nós temos direito a defender nossos bens naturais”, reivindicou. Por isso alertou que as fontes de água estão sendo contaminadas com os venenos.

Enquanto isso, a moradora de Rincón de Valentines (departamento de Salto) Beatriz Pereira Das Neves, lamentou na atividade porque “enquanto produzo orgânico o avião me atira veneno”. “Aqueles que fazemos produção orgânica vemos que se não temos ninguém que defenda o meio ambiente nosso trabalho é em vão”, acrescentou.

Em uma zona onde a atividade arrozeira prejudica os moradores locais, a ausência do Estado também é a constante. Por isso Beatriz pediu apoio, “que alguém ouça e nos defenda”, porque “as avionetas continuem atirando veneno em nossas populações”.

Sob a lógica de que os atingidos têm que demonstrar que são atingidos, ao invés de que a indústria agroquímica demonstre que seus produtos não são nocivos para a saúde humana, as denúncias de populações danificadas por agrotóxicos costumam ser desatendidas ou consideradas “infundadas”.

“Já sabemos que existe suficiente informação científica que prova que a exposição aos praguicidas durante certos períodos de tempo gera impactos nos seres humanos”, disse a doutora Burger, que tem estudado o tema durante décadas. Doenças da pele e respiratórias parecem se destacar entre as afecções sofridas por populações fumigadas. “O principal ator é o governo. Não é possível que continuem passando aviões por pátios de escolas ou casas”, criticou Mabel.

Foto: http://noticias-ambientales-cordoba.blogspot.com

(CC) 2012 Radio Monde Réel

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